terça-feira, 11 de maio de 2010

Não me reconheço, desenlaço olhares, fragmentos de memória para que fujas até mim.
Quero que voltes mas não te quero a meu lado.
És um miúdo. Sinto a tua falta mas não te quero mais!

Se estou só, queres tu saber:



Pois bem, sim, estou só,


como o avião que voa só e horizontal,


fixado no feixe de rádio,


e atravessa as Montanhas Rochosas,


visando os corredores orlados de azul


de um qualquer aeroporto no oceano.






Se estou só, queres perguntar:


Bem, é claro, só


como uma mulher que atravessa de automóvel o país,


dia após dia, deixando atrás de si,


milha após milha,


cidadezinhas onde podia ter parado


e vivido e morrido em solidão.






Se estou só,


deve ser a solidão


de ser a primeira a despertar, de respirar


o primeiro sopro frio da manhã sobre a cidade,


de ser a única acordada


numa casa envolta em sono.






Se estou só,


é com o barco a remos bloqueado na margem pelo gelo


na derradeira luz vermelha do ano,


e que sabe o que é, que sabe não ser


gelo, nem lama, nem luz de Inverno,


mas madeira, dotada para arder.






Adrienne Rich



sexta-feira, 7 de maio de 2010

Encontrar





As coisas vêm vão e são tão vãs



como este olhar que ignoro que me olha
Ruy Belo