sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Momentos ilusórios


Depois de 6 anos encontro-me sozinha. Não sem ninguém, num sentido literal da palavra, mas sem ti. Quando te conheci fiquei deslumbrada com as tuas palavras, com a falsa ingenuidade com que me conquistaste. Nos primeiros tempos, pensei que não havia ninguém como tu, tão humilde e generoso, tanto comigo como com os meus pais. Aos poucos, começaste a fugir de nós...de mim e deles, "não gosto muito do Rui", "As tuas amigas não são tuas amigas", só porque a Sónia não concordou com uma simples opinião tua. Aos poucos, fui-me habituando, quando saímos, a estar separada de ti. Sentavaste no balcão do café a ler o jornal e a beber um moscatel ou um Porto. Eu, sentava-me ao teu lado mas era como se não estivesse ali. Lias o jornal e eu ali ficava. Disseste que o cigarro não ficava bem na minha mão, que nada tinha a ver comigo. Deixei de fumar. Comecei, aos poucos, a sentar-me junto das minhas colegas de escola, na esperança que ainda ali estivessem. Umas nunca tinham estado. A Sónia, por exemplo, esteve sempre...Quando te disse que tinha conseguido trabalho nem sorriste. Contei-te à hora de almoço, estavas no café. Fiquei deslumbrada com a possibilidade de trabalhar depois de tantos anos de estudo. Deixaste de sair comigo. Comecei, sozinha, a percorrer a noite, a sentar-me sozinha ao balcão dos bares de onde morávamos antes de vivermos juntos, na terra dos nossos pais, onde ainda estavam as minhas amigas. Pensei que tinhamos uma relação liberal, cada um de nós tinha a sua vida e, à noite, encontrávamo-nos na nossa casa, na tua casa afinal... Depois de palavras duras, desconfianças, lágrimas derramadas sem um abraço, e passeios infindáveis até à beira do Tejo, não aguentei mais viver contigo. Deixaste de ser a pessoa que eras. Talvez eu também tenha mudado, afinal passaram 6 anos e com 20 anos, ao contrário do que pensava na altura, eu não sabia tudo... Agora, quase um ano depois de te deixar, sei que te amei mesmo depois de partir, sei que sofri por não te ter, mas afinal, nunca tinhas lá estado. Descobri que outra pessoa estava na tua vida e o amor incondicional que declaravas por mim se tinha desvanecido num piscar de olhos. Do amor passámos ao ódio. Não te odeio. Tenho uma mágoa dentro do peito que não consigo arrancar. Seguiste a tua vida e eu sinto-me completamente presa dentro dela.

Sem comentários: